Parts Unknown: Fashion Week, à la Anthony Bourdain

De Paris à Copenhagen - o que realmente importa na temporada de moda? Spoiler: nem sempre está na primeira fila.

Se Anthony Bourdain cobrisse semanas de moda, duvido que estivesse na primeira fila. Ele estaria no restaurante mais duvidoso da cidade, comendo algo que as influencers definitivamente não chegariam nem perto e ouvindo fofocas que nunca veríamos no Instagram.

Porque dentro das salas de desfile, a coreografia já é ensaiada – mas e o improviso?

Nesta edição, a Crème faz uma viagem entre Paris e Copenhagen, com o olhar de quem sabe que o crème de la crème da moda raramente acontece onde deveria. Entre a opulência da Alta Costura e o frescor (quase irritante) dos escandinavos, os melhores momentos não estão na passarela – mas sim do lado de fora, onde os insiders finalmente largam a pose, os melhores cafés são tomados às pressas entre um show e outro, e as conversas que realmente importam acontecem longe dos holofotes.

Apertem os cintos e deixem as canetinhas emagrecedoras em casa — we are about to get hungry!

Enquanto fazia aquele scroll sem rumo (a.k.a. doomscrolling) pela minha For You do TikTok, me deparei com um vídeo que resume um sentimento que anda me rondando: que falta faz Anthony Bourdain.

Se o nome não te soa familiar, vamos corrigir isso: Bourdain era muito mais do que um chef e apresentador de TV. Ele era um flâneur do mundo moderno, um contador de histórias com aquele humor ácido e um dom para transformar um “simples” prato em uma experiência de vida.

Nova-iorquino, ele começou nas cozinhas, mas foi com Kitchen Confidential que o mundo realmente tomou nota – o livro expunha os bastidores caóticos e nada glamourosos da gastronomia, mas sempre com um charme cínico que só ele sabia fazer. Depois, vieram os programas, como No Reservations e Parts Unknown, onde ele revolucionou os “programas de viagem e comida”. Não era só sobre o prato. Era sobre a história. Quem preparou? Por quê? Qual o contexto daquele lugar, daquela cultura? Ele nos levava a um “intensivão” na essência de cada destino.

E aí eu me pergunto: e se as semanas de moda fossem assim?

Porque, na teoria, elas poderiam ser — um grande encontro de pessoas que vivem e respiram moda, cheias de ideias e referências. Mas na prática, sabemos que o que domina o ambiente não é exatamente essa troca genuína. Tem a correria, tem a exaustão, tem o fato de que ninguém come direito e todo mundo finge que não está absolutamente irritado com os atrasos e os sittings dos shows. O street style, que deveria ser um reflexo autêntico do que as pessoas realmente vestem, virou um desfile à parte, estrategicamente pensado. Todo mundo sorri para a câmera e rola os olhos assim que ela vira para o lado.

E talvez seja exatamente isso que me faz sentir tanta falta de Bourdain. Porque ele nos lembrava que o valor das coisas não estava no que era cuidadosamente encenado, mas no que acontecia nos detalhes não planejados.

E a moda, quando realmente boa, também é sobre isso: encontrar o crème de la crème em meio ao caos.

”You learn a lot about someone when you share a meal together” — Anthony Bourdain

Senhoras e senhores, bem-vindos a bordo da Crème Airlines (hehe).
Nesta edição, embarcamos em uma viagem com escala em Paris para a Haute Couture e destino final em Copenhagen.
Passaporte em mãos? A viagem começa agora.
Bon voyage!

Bienvenue à Paris! O comandante informa que pousamos em território de alta-costura. Por favor, mantenham os cintos afivelados, pois a turbulência causada por Valentino promete ser intensa. Merci pela preferência, e não se esqueçam: na dúvida, sempre escolha o look mais dramático.

VALENTINO
Alessandro Michele aterrissa na Valentino e, como esperado, nada aqui é minimalista — nem deveria ser. O desfile parece um sonho febril entre tapeçarias antigas, vestidos que flutuam e um exagero deliciosamente bem dosado. Pérolas, rendas, bordados e uma certa decadência glamourosa.

ARMANI PRIVÉ
Giorgio Armani opera como um comandante experiente: nada de turbulências. A coleção é um sonho de se perder os olhos — quase cem looks que refletem uma festa de bordados extravagantes.

ASHI STUDIO
Ashi Studio trouxe vestidos esculturais. Mas o verdadeiro show? As meias com cigarro embutido — um detalhe ousado que poderia ser contrabandeado.

Antes da decolagem para Copenhagen, uma parada obrigatória nas trends de beleza das passarelas da Alta-Costura. Vamos aos highlights:

Chegamos naquela parte essencial de qualquer viagem: comer bem e evitar armadilhas para turistas. Em Paris, a regra é clara—se tem menu traduzido em cinco línguas, corra!! Esta seleção traz uma curadoria de aprovados por Anthony Bourdain e algumas descobertas pessoais que merecem o seu pedido.

Recomendações do Anthony Bourdain:

• Bistrot Paul Bert – Clássico, sem firulas.

• Le Dôme – O melhor seafood de Paris, segundo Bourdain.

• Le Baratin – Pequenininho, mas segundo ele, delicioso.

Minhas Recomendações:

• L’Avant Comptoir/Le Comptoir – equeno, sempre lotado, sempre incrível.

• Deux Fois Plus de Piment – Spicy food lovers, esse é para vocês.

• La Baguette du Relais – Um sanduíche de entrecôte despretensioso.
  

Senhoras e senhores, bem-vindos a Copenhagen! Por favor, retirem seus casacos oversized do compartimento superior e preparem-se para aterrissar no território mais cool do globo.
Passem pelo portão do street style para analisar a última tendência escandinava e, por favor, desembarquem com um café na mão – porque ninguém segura uma fashion week sem cafeína.

Stine Goya remixou o romântico com saias volumosas, trench coats de couro e padronagens florais dignas de cortina de avó (e digo isso como elogio, ok?). MKDT Studio refinou a alfaiataria sem perder a atitude, trazendo saias sobrepostas em calças de alfaiataria e blazers oversized na medida exata. Já Han Kjøbenhavn trouxe um drama gótico-distópico, com silhuetas rígidas e texturas nada óbvias.
No lado mais rebelde, Deadwood reafirmou a estética punk de forma afiada, enquanto Alis manteve o streetwear relaxado – daquele jeito cool que só eles conseguem fazer.

Se tem algo que os dinamarqueses dominam, além de pedalar sem suar, é transformar suas ruas em uma extensão (muitas vezes, mais interessante) das passarelas. O street style da temporada foi, como sempre, um show à parte — um desfile sem convites. Vamos aos highlights das ruas dessa temporada:

1. Polka dots
Estampas de poá, especialmente em meias-calças, apareceram como um toque vintage, mas sem essa nostalgia exagerada, sabe?

2. Sobreposições maxi
Vestidos rendados sobre calças, camisas aparecendo sob jaquetas cropped, lenços e tricôs amarrados estrategicamente. O segredo? Nada parece planejado demais – mas tudo está no lugar certo.

3. Vermelho como ponto de cor
Não importa a peça – casacos, saias, bolsas, meias – o vermelho foi a cor-chave do street style nórdico. Usado de forma estratégica (e nada discreta), ele apareceu como ponto de contraste em composições neutras.

4. Sequin skirts
Saias brilhosas, bordadas e com aplicações trouxeram um toque de festa para as ruas, mas sem exageros. O segredo? Equilibrar com peças casuais.

5. Utilitarismo
Jaquetas utilitárias, calças amplas e até vestidos em tecidos encorpados criaram looks que transitam entre o funcional e o statement no street style de Copenhagen.

Se tem uma coisa que Copenhagen leva a sério, além de bicicletas e bons casacos, é comida. E não falo só dos restaurantes chiques e seus pratos que parecem obras de arte – aqui, até um café aleatório dá vontade de tirar foto.

Recomendações do Anthony Bourdain:

• Noma – O templo da gastronomia nórdica.

• Restaurant Grøften – Tradição e comida dinamarquesa.

• John’s Hotdog Deli – Sim, é uma barraquinha de cachorro-quente. Sim, Bourdain aprovava.

Minhas Recomendações:

• La Banchina – O melhor lugar para um vinho natural e um mergulho no canal.

• Bobe – Um bistrô contemporâneo.

• Buka Bakery – Café delicioso, pães incríveis e a melhor desculpa para ficar observando o movimento.
  
  Tripulação, preparar para o pouso. A viagem chega ao fim, mas a Crème decola novamente na próxima semana. Até lá!
  

“Travel is about the gorgeous feeling of teetering in the unknown.” — Anthony Bourdain